11 de maio de 2015

Um lugar onde se pode ensinar e aprender de tudo – e não é uma escola!


Anna Haddad cumpriu a meta traçada por sua família: estudar em um colégio tradicional e passar no vestibular. Cursou a faculdade de Direito na PUC, em São paulo, e seguindo o roteiro começou a trabalhar em um escritório de advocacia, na área empresarial. Até que, aos 25 anos, a rotina e o tailleur passaram a incomodar.

Era hora de sair do roteiro: durante o processo, percebeu que gostava de Educação e decidiu se aprofundar: passou a ir a encontros, aulas e palestras, principalmente as que discutiam a “descolarização” ou que questionavam o modelo tradicional de ensino. Apesar da angústia que a crise de identidade provoca, nessa fase Anna não estava sozinha. Sua irmã mais nova, Camila Haddad depois de formada, foi para Londres fazer mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Lá, ela também estudou economia colaborativa. Foi quando o papo entre as duas ficou ainda mais estimulante. “Percebi que poderia me encontrar empreendendo um negócio que fizesse sentido para mim. Passamos a pesquisar juntas nessa direção”, conta Anna. As irmãs (hoje com 27 e 28 anos) chegaram a montar um plano de negócios para uma empresa que “recirculasse” mercadorias e fosse colaborativa. Seria uma plataforma de compra, venda e troca de produtos. Elas mapearam o mercado, identificaram um ineditismo na proposta, montaram a estrutura, mas, segundo Anna, algo subjetivo não permitiu que seguissem em frente. “Não era um motivo racional, simplesmente não fluiu.” AO TENTAR SE ENCONTRAR, ELA ENCONTROU UM NEGÓCIO Na tarefa de autoconhecer-se, Anna percebeu a dificuldade que tinha em acessar conteúdos diversos. “Os formatos eram muito tradicionais, vinculados ao modelo professor-aluno. Eu sabia que tinha muita gente com muito conhecimento por aí, e tantas outras querendo aprender, mas sem se encontrarem. Eu era uma delas”, diz ela. A angústia, dessa vez, serviu de ponto de partida para um negócio: 


O desejo de compartilhar conhecimento fez nascer a Cinese. A plataforma agrega pessoas que querem ensinar algo com aquelas que desejam instruir-se. Em qualquer lugar, em qualquer cidade. De matemática financeira a um bate-papo sobre futebol. Com doutorado ou sem. 
Em junho de 2012, as sócias organizaram a Semana Cinética, uma série de encontros em São Paulo com temas como educação informal, democracia e arte, música, urbanismo e mobilidade e minorias. “As pessoas se engajaram, cederam espaço. Foi incrível. Mais de mil pessoas passaram pelo evento”, lembra Anna. 
Com um investimento de 50 mil reais, meses depois do evento offline, em agosto de 2012 o Cinese foi ao ar. A plataforma funciona como uma rede social: de um lado, os usuários propõem encontros temáticos, palestras, aulas, workshops. Outros se inscrevem para buscar assuntos de interesse. O aprendizado é livre, coletivo e acessível. 
No “menu” do Cinese há cursos e encontros gratuitos, e também opções pagas. Além deles, há os canais curados, que levam a assinatura de instituições como o Cemec, o Estaleiro Liberdade, o portal Papo de Homem entre outros. 


Um pouco na tentativa e erro, mas também usando muito do que Camila tinha estudado sobre economia colaborativa e planejamento, aos poucos o Cinese percebeu que tinha um outro flanco no qual poderia atuar: elas notaram que a habilidade em ajudar outros a empreender também era um negócio. Assim, passaram a oferecer consultoria para ambientes e processos colaborativos. 
Hoje em dia o Cinese tem os custos fixos cobertos pelas contribuições espontâneas (a taxa de percentual livre, que quem vende aulas repassa ao site) e pela mensalidade paga pelos canais curados. O dinheiro para reinvestir na empresa e remunerar as sócias e a equipe vem das consultorias. Elas encontraram o rumo, já sabem para onde querem ir, mas ainda estão construindo o próprio caminho. Isso implica na vontade de estabelecer paradigmas inovadores também na forma de se organizarem como empresa. 


 “Queremos ajudar aqueles que ainda não ingressaram na faculdade. Dar uma força para que consigam ‘sair da caixa’ antes de escolher a profissão,” conta Anna. Ela parece querer poupar alguma outra garota recém-saída do colégio da angústia de seguir um roteiro sem saber o porquê. Com a Cinese, seus cursos livres e aulas experimentais, quem sabe não fique mais fácil encontrar sua própria estrada. 

fonte: projetodraft.com

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